A música que toca - parte 2

08/05/2025

Eu já tinha pensado - e até escrito sobre - essa analogia há algum tempo atrás. O resumo aqui é que todos temos uma musiquinha que toca atrás da nossa orelha. Nascemos com ela, crescemos com ela, mas contra a nossa vontade, ela vai diminuindo com o passar dos anos. A vida torna-se muito mais séria, com problemas suficientes para que nosso foco seja afastado dela. E ela some. Não é que ela literalmente some, a verdade é que a gente não presta mais atenção nela.

E prestar atenção nela é prestar atenção na nossa vida. No que de fato está acontecendo. No que de fato importa - se é que sobram muitas coisas para se importar.

E a música volta com tudo quando a gente sofre uma rasteira da vida, por exemplo. Quando a gente percebe que não somos de ferro ou que nossa saúde é frágil ou, pior, quando alguém que amamos não está mais com nós.

Aí tudo que escutamos é a música. Na verdade a música vai ser triste, e sempre que ouvimos ela queremos chorar - e quem nunca chorou com uma música triste trancado no quarto?

Mas, de novo, outra ilusão. A música não é necessariamente triste. É claro que quando estamos tristes, a música parece ser triste. Mas eu já ouvi ela várias vezes feliz. E só ouvir ela me deu vontade de sorrir. E algumas vezes a felicidade foi tão intensa que me até chorei também de alegria.

Eu olho para meu filho e tenho certeza que ele presta atenção na música que toca o tempo todo. E por que não prestaria? Ele consegue perceber os ruídos mais insignificantes, mais distantes possíveis - e que, se ele não me pedisse para prestar atenção, passariam como um grande vazio para mim.

E a música passa despercebida por mim quase o tempo todo. Eu não presto mais atenção nela. Eu não presto atenção a quase mais nada. E não é porque não tenho interesse em nada - tenho interesses em excesso até. É porque tem tanta coisa desimportante tomando minha atenção que eu não escuto mais nada.

Como continuar escutando? Não quero escutar ela só da próxima vez que alguma coisa ruim acontecer. Eu quero escutar ela todos os dias. Quero escutar ela ainda mais quando estou feliz. Mas ainda não tenho uma fórmula mágica para isso.

Como será? Viajando mais? Escrevendo mais? Meditando mais? Amando mais? Como eu queria que tudo tivesse uma resposta rápida e fácil. Acho que estamos mal acostumados a termos uma resposta rápida e fácil para tudo - só que as coisas mais importantes não são solucionáveis, não são "resolvíveis" ou arquiváveis.

Então estou aqui querendo concluir alguma coisa, mas sem saber como.