"Estou vivendo bem?"
Acho que essa talvez seja uma das perguntas que eu mais tenho feito a mim mesmo ultimamente. E é lógico que, para essa pergunta, não há resposta unívoca. E também não sei se faz parte do "viver bem" perguntar-nos se vivemos bem. Afinal, o que é melhor: ser feliz sem consciência sobre sua situação de felicidade, ou ser consciente de nossa infelicidade?
Stuart Mill achava que saber de nossa condição (de felicidade ou infelicidade) é melhor do que não sabê-la, mesmo que ao sabê-la tomamos conhecimento de nossa infelicidade. É sensacional seu trecho que diz: "É melhor ser um ser humano insatisfeito que um porco satisfeito; melhor ser um Sócrates insatisfeito que um tolo satisfeito; e, se o tolo ou o porco tem uma opinião distinta, é porque eles só conhecem o seu próprio lado da questão." E sua razão é simples: ninguém consentiria em ser um porco/tolo feliz. Mas consentiria em querer saber mais sobre sua vida e existência e sua condição de infelicidade.
Schopenhauer dizia que nossa vida oscila apenas entre o tédio e o sofrimento: desejamos algo, sofremos por isso, conseguimos esse algo e nos entediamos, até que desejamos outro algo, e sofremos por isso... e assim vai.
Mas não! O propósito desse post não era uma revisão filosófica sobre a felicidade (aliás, eu nem tenho gabarito algum para isso). E nem discordar ou concordar com Schopenhauer ou Mill. O objetivo é falar um pouco de uma "vida feliz", e, claro, colocar a felicidade como a finalidade última de nossa vida. Afinal, o que é a vida senão uma busca pela felicidade?
E tentando viver sob esse ponto de vista, tenho percebido duas relações entre vida e felicidade. A primeira relação, não deixa de ser um certo paradoxo: felicidade não é realização de seus objetivos. Conseguir o melhor emprego, comprar o melhor carro, ser melhor do que seu amigo, nenhuma dessas realizações trazem uma felicidade plena. Aliás, pelo contrário, a busca por elas (quando desenfreada) traz sofrimento. O máximo que elas trazem é, quando atingidas, alegria (o que é bem diferente de felicidade). E isso porque a busca pela realização dos objetivos consome muito mais tempo do que dura a satisfação pela sua consecução. E o paradoxo está no sentido de que, ao mesmo tempo que a realização de seus objetivos não traz felicidade, o fracasso nessa realização traz sofrimento. Ou seja, a realização de objetivos é condição para uma vida feliz, mas não causa dessa vida feliz.
A segunda é que felicidade está, sem dúvida, associada a alguns pontos: o primeiro é o relacionamento próximo com as pessoas certas. O segundo é engajar em atividades ou pensamentos altruístas. O terceiro é reduzir a importância da competitividade.
O relacionamento com as pessoas certas é um tanto que intuitivo. Ninguém é feliz sozinho. Buscar mais proximidade daqueles que você ama é condição, e, diferentemente da "realização de objetivos", também é causa de uma felicidade.
Engajar-se em atividades/pensamentos altruístas também é causa de uma vida feliz. Isso não significa que você tenha que fazer filantropia (apesar de essa ser uma boa atividade altruista), mas sim que suas ações estejam orientadas para um impacto positivo nos outros. Ou, no mínimo, em não causar impacto negativo.
Por fim, a redução da importância da competitividade. Uma vez que o mundo está cada vez mais voltado ao sucesso pessoal e profissional - afinal não deixa de ser isso que nossos pais querem/queriam da gente - é mais comum uma busca desenfreada para ser melhor do que o outro. O importante não é muito o tanto que você consegue, mas o tanto que você consegue a mais do que seus pares. E claro que, nem sempre você consegue ser o melhor. E claro também que para ser o melhor, você tem que abdicar de muita coisa. E isso, de novo, traz sofrimento.
Reduzir a importância da competitividade é vital para uma vida mais tranquila, em paz, e passível de ser mais feliz. No final das contas, viver melhor consigo mesmo é muito mais importante do que comparar-se aos seus próximos.
E onde pode ser achada a felicidade? Isso é relativo. Muda de pessoa para pessoa. Cada um encontra felicidade de uma maneira distinta em um lugar/atividade diferente. Entretanto, sem dúvida ela deve estar comungada com esses três pontos: relacionamento próximo com as pessoas certas, atividades ou pensamentos altruístas e uma redução da importância da competitividade.
Até