Se você é um leitor assíduo do blog (o que provavelmente não é o caso), lembrará que no último post falei sobre cuidar do espírito (aqui). Falei também que estabelecer bons hábitos é uma atividade que demanda muito mais da sua mente do que do seu corpo. E que, na minha opinião, cuidar do espírito é a melhor forma de propiciar um descanso decente para sua mente. E também muito provavelmente, se você cuida também do seu espírito, você fica de bem com a vida.
Talvez o post de hoje possa parecer ir contra tudo que foi escrito aqui. E isso porque eu acredito que, às vezes, temos que quebrar nossas rotinas - mesmos as boas. E vou tentar explicar aqui o porquê.
Há milhões de modos de se viver a vida. E no nosso curto período de existência nós experimentamos, infelizmente, uma parcela tão ínfima, tão pequena que é impossível termos alguma ideia de qual seria o melhor modo de viver. Quando você quer saber qual marca de café é melhor, você tem que experimentar no mínimo dois cafés de marcas diferentes. Quando você quer saber se você prefere uma viagem para a praia ou para a montanha, você tem que, pelo menos, ter viajado para um lugar de praia e um de montanha antes.
Agora olha que maluco tudo isso. Nós com 16 ou 17 anos temos que escolher o que fazer para o resto de nossas vidas - durante 8 horas por dia todos os dias - dentre as milhares de possibilidades que existem no mundo. Sem ter experimentado nenhuma delas. E quando eu digo milhares de possibilidades não estou falando dos vários cursos que você pode escolher fazer na faculdade, mas muito além, como trabalhar em uma loja de souvenir em um transatlântico durante anos ou ajudar a organizar exposições de um museu qualquer na Tailândia. Abra a caixinha de possibilidades da vida. Pense nisso com a humildade de saber que provavelmente você está onde você está muito mais por uma determinação da vida em sociedade - por você ter nascido onde você nasceu, tido as experiências que teve, conversado com quem você conversou - do que por uma escolha livre e esclarecida.
A solução é então largar tudo e viver como ermitão na Mongólia? Pode até ser, mas acho que não é necessário uma medida tão drástica como essa. E não é necessário porque ainda que você passe a experimentar as coisas mais diferentes e loucas possíveis na sua vida, você vai continuar experimentando apenas uma parcela minúscula de possibilidades. Ao invés de viver o mundo na perspectiva de apenas um grão-de-areia na praia, você passará a viver a perspectiva de uma meia dúzia de grãos-de-areia diferentes... e isso não muda o simples e incontestável fato de que ainda existe uma praia inteira de grãos-de-areia... e um planeta inteiro de praias diferentes.
Talvez a melhor coisa seja viver consciente dessas milhões de possibilidades. E que você pode experimentar várias delas, quando quiser, como quiser, onde quiser. E cuidado, porque criar rotinas e hábitos (mesmo os supostamente do bem) pode fazer com que você esqueça disso, e viva uma vida que subestime e oculte outras possibilidades.
Comece hoje. Quebre uma rotina. Vá a um lugar diferente. Com alguém diferente. Um lugar que você achava que nunca pudesse ir. Com alguém que você achava que nunca pudesse te acompanhar. A experiência pode não ser boa, mas pode ser a-n-i-m-a-l também.
Na pior das hipóteses, você trará para si, mesmo que por um breve lapso, a consciência de que há muitas coisas diferentes que podem ser experimentadas e aprendidas. E um mundo inteiro que pode ser vivido. E talvez fará com que você mude, pelo menos um pouco, sua perspectiva e ideias sobre a vida.
E isso sim é cuidar do espírito.
Cat Stevens parece que sintetiza bem tudo de uma forma simples em "If you want to sing out, sing out":
You can do what you want
The opportunity's on
And if you can find a new way
You can do it today
You can make it all true
And you can make it undo
you see ah ah ah
its easy ah ah ah
You only need to know
Well if you want to say yes, say yes
And if you want to say no, say no
'Cause there's a million ways to go
You know that there are
And if you want to be me, be me
And if you want to be you, be you
'Cause there's a million things to do
You know that there are
Até mais