Hoje estava almoçando quando um grupo de meninas, de 10 a 15 anos, todas vestidas de balé entraram também no restaurante para comer. Pelo que pude notar (e como hoje é feriado), provavelmente elas estavam em alguma apresentação. E me pareceu que estavam com uma expressão de "aliviadas".
Lembro o quanto levava a sério as minhas "apresentações". Desde quando eu fazia aqueles "teatrinhos" de dia dos pais ou dia das mães (tinha uns 5 a 12 anos de idade), até quando tocava teclado em algumas apresentações do colégio (de uns 10 a 14 anos), até mais recentemente quando tínhamos uma banda de rock e fazíamos shows (de uns 14 a 18 anos).
Em todas essas ocasiões, a possibilidade de errar durante as apresentações era uma terrível fonte de angústia. E se eu errava, eu ficava martelando, envergonhado, comigo mesmo: "por que eu errei?"
Depois que passou a fase dos teatrinhos da escola, eu já com 12 anos ficava pensando: "uma coisa tão bobinha, por que eu me preocupava tanto? Claro que se houvesse algum erro, nossos pais e professores iam até achar "bonitinho! Agora, tocar teclado, isso sim é responsabilidade. Eu não posso errar. De maneira alguma."
E aí, mais alguns anos depois, já com 14 anos eu pensava: "Que coisa bobinha! Tocar tecladinho para a turminha da escola! Por que eu me preocupava tanto? Quero ver ser vocalista de uma banda para 500 pessoas na primeira apresentação. Isso é que é difícil. E se formos vaiados? E se eles não gostarem? E se a gente errar?"
Hoje eu lembro e vejo os vídeos da banda, penso: "Que coisa bobinha! ahhh, se minhas responsabilidades resumissem a tocar sem errar..." Agora eu vejo que era tão banal aquilo, que, caramba, eu não precisava ficar preocupado! Fosse o que fosse, se alguma coisa desse errado com a banda, não era algo tão grave assim. Mesmo porque tantas bandas erram ao vivo! E outra, eu tinha 14 anos, quem iria ficar bravo comigo?
Generalizando um pouco, eu tenho certeza que todo mundo já pensou: "Como a vida era mais fácil, mais tranquila há uns anos atrás. As preocupações, na verdade, não eram preocupações de verdade."
Mas pare para pensar. Será que realmente as preocupações de gente grande, as preocupações de hoje, são aquelas pelas quais que vale a pena nos inquietarmos? Será que não vai chegar o dia que vamos olhar para trás e pensar: "nossa... por que eu me preocupei tanto, trabalhar e sustentar uma família... não seria tão grave assim se eu errasse... eu poderia ter levado tudo mais numa boa..."
Mas é bem difícil alguém pensar assim.
Isso porque todas as outras preocupações, eram preocupações de crianças. E ter sucesso profissional é a preocupação predominante de adulto. E sabe o que é pior? A gente não passa da fase adulta. Não existe uma fase mais madura em que possamos olhar para trás e falar: "que coisa bobinha! se eu errasse não seria tão grave assim...".
E com certeza todo mundo deve estar pensando: "Mas amigo, sustentar uma família é coisa séria. É uma coisa com que você precisa se preocupar... e se der errado... e aí? Como você vai fazer?"
Concordo, e são essas as razões pelas quais eu também me preocupo.
Mas espera um pouco. Eu também achava que era super importante tocar o tecladinho. Eu também achava que era importante não errar nas falas do teatrinho ou nas letras das músicas que íamos tocar com a banda.
Será que não é uma questão de perspectiva? Será que não temos que levar todas as preocupações da vida profissional como se fossem um "teatrinho da escola"? E que, se tudo der errado, vai ser "bonitinho até" e vamos dar a volta por cima?
Estou muito convencido disso. O problema é convencer um lugar aqui dentro da cabeça que chama medo.